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Os protestos pelo Brasil e os rumos possíveis

18 jun

Texto e fotos: Alexandre Haubrich

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Os protestos que tomaram as ruas do Brasil no histórico 17 de junho tiveram como origem o início de 2012, quando alguns poucos começaram a sair às ruas em Porto Alegre para lutar contra o aumento das passagens do transporte coletivo. Organizações foram se juntando ao movimento e 2013 amanheceu com protestos se multiplicando no mesmo ritmo em que se multiplicavam os protestantes. No 17J foram pelo menos 300 mil no país, pelo menos 20 mil em Porto Alegre. Uma massa incontrolável que, por enorme e diversa que é, inclusive com setores da direita se juntando às mais recentes manifestações, precisa preocupar-se com os rumos que poderá tomar a partir daqui.

Encaminhou-se na última semana a tentativa, orquestrada midiaticamente, de tirar o foco do problema das passagens e, de modo menos específico, do problema do capital (algo que começava inexoravelmente a apresentar-se), e transformar as mobilizações em instrumento contra o governo federal usando temas impalpáveis e tradicionalmente caros ao discurso da direita, como o “combate à corrupção” e o “combate à violência” – o que, na prática direitista, significa combate à política e aumento da repressão policial. A resposta veio, e nas marchas pelo Brasil era possível observar diversos participantes que claramente nada tinham a ver com a luta contra o capital, contra o sistema que é, no fim das contas, o responsável pela negação do direito ao transporte público, gratuito e de qualidade.

As mobilizações em si têm trazido consigo uma carga de violência incontrolável, mas reduzida. A tradição recente brasileira é de certa passividade popular ou de protestos absolutamente pacíficos, e por isso o que tem acontecido causa certo espanto, mas as recentes manifestações na Europa (para não falar da Primavera Árabe) mostram que essa não é a realidade natural. Certa carga de violência faz parte, é de praxe, e tem seu valor. É importante, porém, estrategicamente, que seja reduzida a uma minoria e que o movimento, enquanto corpo, repudie esse tipo de ação. A violência, na conjuntura, não pode se parte do movimento, mas pode, sim, estar ao seu redor. Com limites, com inteligência. Quebrar vidros do Teatro São Pedro, por exemplo, não faz o menor sentido, assim como não faz sentido incendiar ônibus de empresas públicas.

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A violência policial também é uma realidade com a qual temos que contar. Afinal de contas, o que se espera da polícia? Certamente irá sempre reagir. O que não pode ser aceito é que tome ela a atitude de iniciar o confronto, assim como não pode ser aceita truculência, abuso de autoridade e tentativas de dispersão total das caminhadas. Também não podem ser aceitas ações policiais nas quais os agentes estão sem identificação. As ações precisam ser específicas, reativas, controladas e respeitosas. É o Estado, propriedade popular, e não pode agir como criminoso. Não é um enfrentamento de gangues.

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Um último e necessário ponto a respeito da dinâmica do movimento em dias de manifestação se refere à questão dos partidos. Vejo PSOL e PSTU com total legitimidade para levar suas bandeiras e camisetas às mobilizações. São parte importante desse movimento em especial e das lutas de contestação no Brasil, de modo geral. Gritar “sem partido” é não compreender a legítima diversidade do movimento e os setores que o compõem. A esquerda, a contestação ao capitalismo, é tradicionalmente diversa, e os símbolos dessa diversidade – bandeiras de partidos, de movimentos anarquistas, de movimentos punk – podem, sim, estar presentes. O importante é que haja unidade na luta. Ainda que os caminhos para alcançar a vitória sejam distintos, existem intersecções, e são elas que precisam ser destacadas, sem que isso procure esconder a diversidade. A direita é, por natureza, pouco diversa. Mantêm a unidade para manter o poder. Se não estivermos juntos não poderemos enfrenta-la, e isso só pode ser feito com respeito às nossas diferenças.

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Enfim, tudo indica que o movimento terá repercussões práticas. Algumas cidades já decidiram, um dia após os grandes protestos, baixar os preços das tarifas. Mas até onde queremos ir? É suficiente que essas medidas sejam tomadas através de isenções fiscais às empresas concessionárias? Ou o que queremos é que o lucro seja reduzido? Essas são questões ligadas apenas ao setor específico. O que mais queremos? O que mais podemos? O que precisamos evitar?

A direita chamando o povo para a rua tem um significado claro: querem tomar conta das manifestações, querem desviá-las de seu rumo que, por mais impreciso que seja, certo está que não é em direção à direita, não é em direção a mais hegemonia do capital sobre as pessoas e de uns poucos sobre muitos outros. O movimento precisa responder, precisa fortalecer a unidade para que oportunistas não ganhem espaço e para que, quando tudo o que estamos fazendo der em alguma coisa, seja para melhor, seja com mais povo, com mais espaços e direitos públicos, com mais voz e com mais luta.

Manifestantes voltam às ruas de Porto Alegre para pedir redução da passagem de ônibus.

23 abr

Texto, fotos e vídeo: Bruna Andrade, Jornalismo B
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No começo da noite dessa terça-feira (23), cerca de 300 manifestantes se reuniram em frente à Prefeitura de Porto Alegre para protestar contra o valor das passagens de ônibus. Em meio a faixas, cartazes e palavras de ordem eles reivindicavam a redução da tarifa para R$ 2,60.

Como afirmou a coordenadora geral do DCE da UFRGS, Luany Barros, a manifestação também tinha como objetivo protestar contra a decisão do SEOPA que anunciou estar preparando uma ação judicial para reverter a liminar que garantiu a manutenção do valor da passagem de ônibus em R$ 2,85. A liminar foi obtida pelos vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna (PSOL) no dia 04 de abril.

O ato, que teve início no Paço Municipal e percorreu as ruas do Centro da capital, fazia parte de uma agenda de atividades do Bloco de Luta pelo Transporte Público que teve início no dia 17.

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Manifestantes voltam às ruas de Porto Alegre, comemoram conquista e prometem mais

4 abr

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Texto e fotos: Alexandre Haubrich

Cerca de três mil pessoas enfrentaram a forte chuva que caiu sobre Porto Alegre para, na noite desta quinta-feira, comemorar a liminar que cancelou provisoriamente o aumento das passagens do transporte coletivo e garantir que a luta irá continuar.

Muita chuva caiu de cima e muita água rolou por baixo dos manifestantes, passando direto por bueiros entupidos e até por um rato assustado no meio da multidão. Se a quantidade de pessoas e de cartazes se reduziu por conta do temporal, o ânimo aumentou. Ânimo para enfrentar a chuva e o vento, mas também ânimo atiçado pelo anúncio feito momentos antes do início da caminhada de que os vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna (PSOL) conseguiram uma liminar revogando o aumento. O vice-prefeito Sebastião Mello já disse que a passagem deve voltar a R$ 2,85 em até 24 horas.

A caminhada de duas horas fez um trajeto semelhante ao da última segunda-feira, mas não passou pelo Túnel da Conceição, cortando a Júlio de Castilhos antes de chegar ao seu final e seguindo até a Borges de Medeiros. Os cânticos dos últimos protestos voltaram a aparecer: “O povo na rua, Fortunati, a culpa é tua”, “Se a passagem aumentar Porto Alegre vai parar”, “Quem não pula quer aumento”, “O povo não esquece! Abaixo a RBS”. O carro de som prometeu: “Vamos seguir até a passagem baixar para R$ 2,60!”.

Os manifestantes ainda foram até a frente da sede do jornal Zero Hora, que desde o início condenou os protestos. Também pararam em frente à sede da EPTC.

Os rojões de segunda-feira, vaiados pela maioria dos presentes, não se repetiram. As pichações no viaduto da Borges, sim. As bandeiras anarquistas, vermelhas e negras, estavam em grande número, enquanto pouco apareceram, dessa vez, as bandeiras dos partidos políticos que apoiam e participam da luta.

A unidade dentro da diversidade foi mais uma vez reforçada, e o intenso fim do protesto, com palavras de ordem chamado às ruas e à continuidade das manifestações, mostrou que o legado dessa série de manifestações vai muito além da aparente vitória sobre a Prefeitura na questão das passagens. “Até a Copa do Mundo vamos continuar indo às ruas todas as vezes em que ameaçarem nossos direitos”, bradou o carro de som.

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ATUALIZADO COM VÍDEOS – Nova manifestação contra aumento das passagens leva milhares de pessoas às ruas em Porto Alegre

1 abr

Texto e fotos: Alexandre Haubrich

IMG_5334Quando terminava de cair a tarde desta segunda-feira em Porto Alegre terminou de cair a acomodação popular. Pelo menos 5 mil pessoas de diversas matizes ideológicas estiveram lado a lado em mais um protesto contra o aumento das passagens do transporte coletivo na capital gaúcha. O enorme aparato da Brigada Militar mobilizado e o clima belicoso criado pelo prefeito José Fortunati e por sua mídia não conseguiu transformar a manifestação em um ato violento.

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Em meio a cânticos contra o prefeito, contra o Grupo RBS e a favor de um transporte público acessível, em meio a bandeiras do PSOL, PT, PSTU e de movimentos anarquistas, a multidão concentrada em frente à Prefeitura caminhou por todo o Centro de Porto Alegre, convidando o restante da população a juntar-se à luta e angariando, ao longo do caminho, cada vez mais lutadores.

Com organização suficiente para cruzar em silêncio a frente de um hospital ou para, imediatamente após derrubada uma lixeira, a mesma ser colocada em pé, o ato seguiu por quase duas horas sem maiores problemas. Cruzou viadutos por cima e por baixo, parou em frente a um terminal de ônibus, e prometeu: “quinta vai ser maior”.

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VEJA VÍDEOS DA MANIFESTAÇÃO:

Ainda em frente à Prefeitura:

Momento em que partiu a caminhada:

Passagem pelo Túnel da Conceição:

Manifestantes passam na Borges de Medeiros: