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Fórum pela Paz na Colômbia – Tarde de sábado tem participação de Piedad Córdoba e guerrilheiros

26 maio

Texto e fotos: Bruna Andrade, Jornalismo B

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Na tarde desse sábado (25), no Fórum pela Paz na Colômbia, em Porto Alegre, aconteceu a mesa de Diálogos dos Movimentos Populares com a Mesa de Diálogo de Paz – Governo da Colômbia e FARC-EP. Através de videoconferência os integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) Victoria Sandino, Andrés Paris e Marco León Calarcá, que estavam em Havana para a mesa de negociações pelo fim do conflito armado entre o Governo colombiano e as FARC, responderam a perguntas dos participantes do Fórum. Entre os temas tratados pelos guerrilheiros estiveram as questões das reservas campesinas, participação das mulheres nas FARC e a importância de indígenas, afrodescendentes e campesinos no processo de construção da paz: “Na concepção das FARC, paz é sinônimo de participação popular”, disse um dos representantes dos guerrilheiros.

Durante a mesa foi apresentado um vídeo onde o Comandante Ricardo Tellez lê uma carta de saudação das FARC ao Fórum, onde ele ressalta que a organização sempre defendeu a necessidade de evitar a guerra: “Esta não é um fim para nós, recorremos a ela como única forma de luta possível diante da violência e do terror do Estado”. A carta fala também sobre os diálogos que estão sendo travados em Cuba: “Agora estamos em uma tentativa de chegar a um acordo sobre caminhos para a paz, essa é a tarefa aqui em Havana, disposição e vontade política sustentam essa decisão. O contexto internacional pressiona positivamente à construção de uma solução dialogada. O povo colombiano e suas organizações exigem seu direito de viver em paz e acompanham com força e afeto a mesa”.

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O Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia também mandou sua saudação através de um vídeo em que o Primeiro Comandante Nicolás Rodríguez Bautista propôs a criação “de um movimento continental pela paz na Colômbia” durante o Fórum: “Que daqui saiam sólidas bases para isso, e que se juntem a outras que já vêm trabalhando nesta mesma direção. Por isso, os dirigentes reunidos aqui não devem dispersar-se sem haver conseguido esse objetivo. Para isso, contem conosco”. O Comandante destacou ainda que o ELN acredita em uma paz popular e que na Colômbia estão em disputa dois modelos de paz: “A paz dos cemitérios, a paz oligárquica, que encabeça o presidente Santos, que busca a rendição das guerrilhas para que a Colômbia se coloque sem dificuldades nas mãos do capital transnacional; e a paz popular com a qual nos identificamos com vocês que consideram que ela significa mudanças profundos na vida polícia e social do país”.

Embora o Governo colombiano não tenha enviado nenhuma declaração ao Fórum pela Paz na Colômbia, foi exibido o vídeo em que o chefe-negociador do Governo colombiano, Humberto de La Calle fala sobre a segunda rodada de negociações com as FARC. No vídeo ele ressalta que “as FARC cumpriram rigorosamente seus compromissos, o governo também o fez, mesmo com diversas complexidades logísticas” e afirma que o processo de diálogo que está se dando nesse momento é diferente dos que ocorreram anteriormente na Colômbia: “Umas dessas diferenças é a sua mesma estrutura dividida em diversas fases: primeiro um encontro exploratório que levou a assinatura do Acordo Geral, que estabelece as condições necessárias para o término do conflito; a segunda, para chegar a um acordo sobre os pontos da agenda contidos no Acordo Geral; e uma terceira, que começa com a assinatura do acordo final com que termina o conflito armado”.

No final da tarde Piedad Córdoba, ex-senadora colombiana (que teve seus direitos políticos cassados em 2010 sob a acusação de colaboração com as FARC), e militante do movimento Marcha Patriótica, falou sobre as perspectivas de paz na Colômbia, também em uma videoconferência. Ela ainda respondeu a perguntas e recebeu um convite da deputada do País Basco Diana Urrea, para participar de uma sessão da Comissão de Diretos Humanos do parlamento basco.

Fórum pela Paz na Colômbia – mesa sobre Direitos Humanos pede paz com justiça

26 maio

Texto e fotos: Alexandre Haubrich

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No início da tarde deste sábado dezenas de pessoas se reuniram no auditório da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, no Centro de Porto Alegre, para debater a importância da pauta dos Direitos Humanos quando está em jogo a ideia de paz. Dois brasileiros, dois colombianos e um argentino dividiram a mesa, mas chegaram a um consenso claro: não existe paz sem respeito à diversidade, à pluralidade, à igualdade. Ou seja: para alcançar a paz verdadeira, apenas com Direitos Humanos garantidos.

Depois de falas aprofundadas e que todo o tempo dialogaram entre si, o representante do Comitê Carlos de Ré de Memória, Verdade e Justiça, Raul Ellwangner, encerrou o debate apontando relações entre os problemas colombianos e as lutas pela recuperação da memória sobre as Ditaduras Militares que assombraram a América Latina na segunda metade do século passado. Raul terminou sua fala chamando os presentes a cantar com ele uma música de um argentino que fora perseguido político, ao que se respondeu com canto, palmas e promessas de seguir com a luta e com a construção da identidade latino-americana.

Pouco antes de Raul falar, o argentino José Ernesto Schulman, do Instituto Espacio para la Memória, havia feito uma pequena retrospectiva da história da guerrilha colombiana, tudo para demonstrar que há um fundo social no conflito e que, nesse sentido, as tentativas de igualar guerrilheiros e Estado na violência praticada são absurdas. Traçou, também, um paralelo com a Ditadura Militar argentina e com os governos neoliberais que a sucederam: “As tentativas de igualar vítimas e repressores só tiveram fim na Argentina com o fim da sucessão de governos neoliberais”, disse. E destacou a importância do futuro da Colômbia para a região: “A proposta dos Estados Unidos já não é a ALCA, a proposta dos Estados Unidos para a América Latina agora é o caos. Na Colômbia se joga a sorte da América Latina”.

O “diálogo entre civilizações” seguiu com um professor colombiano que dá aulas na PUC de São Paulo, Pietro Alarcón, que apresentou uma série de dados a respeito da violência do Estado colombiano contra a própria população. Segundo ele, dados oficiais da “fiscalía”, o Ministério Público colombiano, apontam 4634 processos contra integrantes de grupos armados. Destes, 4131 são contra paramilitares, enquanto os outros poucos se dividem entre forças regulares do exército colombiano e insurgentes. Além disso, relatou 25 mil homicídios por razões políticas nos últimos anos, 3 mil casos de desaparecimentos forçados, e mil chacinas nos últimos dez anos. “Não queremos, não podemos dizer que não há excessos entre os insurgentes, mas se colocarmos as estatísticas lado a lado, veremos que por parte do Estado não há excessos, mas política de extermínio”, afirmou. Alarcón defendeu ainda a formulação de um pré-acordo entre as partes que estão agora em negociação em Havana para que “o diálogo possa seguir sem estarmos reféns dos setores armados”, que poderiam criar novos conflitos para atrapalhar as negociações.

A vereadora pelo PSOL de Porto Alegre, Fernanda Melchiona, foi a seguinte a falar, fazendo um panorama da situação dos Direitos Humanos no Brasil atual, citando o massacre do Carandiru e o assassinato do militante sem-terra Elton Brum como exemplos dos problemas que o país segue enfrentando. Para ela, casos como esses são reflexos de uma situação geral de criminalização da pobreza. Aproveitando a presença de muitos estrangeiros, Fernanda fez um relato sobre as milícias do Rio de Janeiro, lembrando o envolvimento de Policiais Militares, bombeiros e políticos. A vereadora ainda destacou as lutas das mulheres e LGBT, destacando que o Brasil é líder em assassinatos homofóbicos, e fez um apelo: “Temos que lutar contra as discriminações, as opressões, as violências, mas nunca perder de perspectiva uma visão mais global, de que uma sociedade só pode ser igualitária mudando os pressupostos”.

Participou também do debate Gustavo Gallardo, representante da Marcha Patriótica, que fez uma retrospectiva do trabalho da Marcha, iniciado há três anos com a união de mais de 1500 organizações em defesa de uma alternativa social e política para a Colômbia. Ele lembrou que o ex presidente Álvaro Uribe classificou a Marcha Patriótica como integrantes da insurgência, o que colocou em risco os membros da organização. Na verdade, segundo Gustavo, há semelhanças nas propostas, “mas eles têm a resistência armada, nós temos a resistência civil”. Conforme o ativista, nesses três anos a Marcha teve quatro integrantes desaparecidos, 11 assassinados e mais de 60 presos. Uma verdadeira carnificina, números que dialogam com as diversas denúncias feitas durante o Fórum, de extermínio sistemático de militantes de oposição.

O militante social, líder comunitário da favela da Rocinha, Paulo César Martins, o Amendoim, pediu a palavra ao fim do debate para fazer um depoimento sobre a necessidade de lutar contra a criminalização da pobreza, e terminou recitando um poema de sua autoria, emocionado e emocionando.

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Fórum pela Paz na Colômbia – Mesa “Juventude pela Paz” propõe Rede Estudantil pela Paz na Colômbia

26 maio

Texto e fotos: Bruna Andrade, Jornalismo B

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Na manhã deste sábado (25), aconteceu no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul a mesa temática Juventude pela Paz, dentro da programação do Fórum pela Paz na Colômbia.  O debate contou com a presença de lideranças juvenis e estudantis de quatro países da américa do sul: Mateus Fiorentini, Secretário Executivo da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (OCLAE); Fausto Breda, representante do Grupo de Trabalho Nacional da Universidade Popular (GTNUP); Martín Randall, Secretário de Relações Internacionais da Federação dos Estudantes Universitários (FEU) do Uruguay; Deisy Aparicio, representante da Associação Colombiana de Estudantes Universitários (ACEU); Manuel González, representante da Federanção Universitária Argentina dos Estudantes (MPE); Ticiana Alvares; presidente da União da Juventude Socialista (UJS-RS); e Jairo Andrés Rivera, Secretário Geral da Federação dos Estudantes Universitários (FEU) da Colômbia.

Em suas falas os jovens líderes debateram sobre o papel da juventude na construção da paz e da democracia para a Colômbia e para a América Latina, na mesa ainda foi proposta a criação da Rede Latino-americana Estudantil e Juvenil pela Paz na Colômbia: “A luta pela paz na Colômbia é uma luta latino-americana”, colocou Fausto Breda. A representante da ACEU, Deisy Aparicio, destacou que “a juventude colombiana está sendo atacada por três eixos: criminalização, estigmatização e militarização” e contou que “em 2012 foram mais de 25 assassinatos de líderes juvenis” em seu país. Seguindo a mesma linha, o uruguaio Martín acrescentou: “A repressão tem seu olhar apontada não só para os movimentos sociais, como para a juventude”.

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A justiça social como uma condição necessária para a paz foi colocada mais uma vez em pauta no Fórum: “É preciso ver a paz não só como a ausência de guerra, mas como a resolução dos problemas que causam o conflito”, colocou o representante do GTNUP, Fausto Breda, que ainda acrescentou que “a mercantilização da educação segue sendo um dos grandes desafios da juventude pela paz”.  Martín Randall também falou sobre o problema da privatização da educação, principalmente da educação superior, na América Latina e acrescentou que para ele “não haverá reforma universitária se não houver transformação social”.

Os palestrantes ainda ressaltaram a importância de uma integração entre os povos do continente e destacaram como fundamental a luta anti-imperialista: “A dimensão maior da luta pela paz deve ser a luta anti-imperialista”, afirmou Ticiana Alvares, “Para alcançarmos a paz na Colômbia, precisamos subverter a ordem das coisas na economia, na política e na sociedade”, acrescentou o colombiano Jairo Andrés. Para o secretário da OCLAE, Mateus Fiorentini: “Paz precisa dialogar com três tópicos: democracia, justiça social e soberania”, temas-base do Fórum pela Paz na Colômbia.

 

Fórum pela Paz na Colômbia – debate sobre Educação defende ensino popular

25 maio

Texto e fotos: Alexandre Haubrich, Jornalismo B

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A manhã de sábado no Fórum pela Paz na Colômbia, que está reunindo em Porto Alegre centenas de ativistas de toda a América Latina, começou com debates sobre Educação e Paz, Mulheres pela Paz e Terra e Território para a Paz. O Jornalismo B acompanhou a primeira dessas mesas, que teve com painelistas a cubana Miriela Fernandez, do Instituto Martin Luther King Jr., Selene Barboza Michielin, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, e Nelson Fajardo Marulanda, professor da Universidad Distrital de Bogotá.

Marulanda abriu os trabalhos explicando a forma como está organizada a estrutura de Educação na Colômbia, voltada ao trabalho, “estruturada nas diretrizes do Banco Mundial”, evitando construir cidadãos “que pensem a sociedade”. Criticou também a categoria de professores, que, segundo ele, desde os anos 1980 entraram em um estado de “letargia”, mais interessados em recompensas materiais do que em Educação. Marulanda explicou ainda que os alunos colombianos passam direto nas séries escolares, chegando às universidades despreparados. Mesmo assim, reconhece que foi a mobilização estudantil que, apesar da letargia dos professores, evitou a reforma universitária que o presidente Juan Manoel Santos pretendia implantar, o que aprofundaria o processo de privatização do ensino.

O professor definiu dois eixos como fundamentais na problemática da Educação colombiana: a letargia dos mestres e a crescente militarização das universidades, tanto de forma ostensiva quanto através de inserção dos serviços de inteligência. Isso tem resultado em diversos líderes estudantis sistematicamente assassinados por paramilitares.

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A também professora Selena Michielin, presidenta da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação, fez uma fala mais curta, apresentando os posicionamentos da CNTE em defesa da Educação Popular, citando Paulo Freire e chamando ao reconhecimento da pluralidade como caminho fundamental à Educação emancipadora. Disse ainda que “a Educação para a paz precisa desenvolver uma cultura de respeito aos Direitos Humanos”, e que a Educação é parte desse desenvolvimento.

A cubana Mirilea Fernandez, representante do Instituto Martin Luther King Jr., procurou inserir a questão da Educação no contexto geral da América Latina. Destacou que o Brasil, mesmo em constante desenvolvimento econômico, é um dos países com mais analfabetismo no continente. Para ela, isso representa a comprovação de que não adianta desenvolvimento econômico se não houver comprometimento social. Descreveu em seguida alguns traços da Educação em Cuba, lembrando que o ensino na ilha é um direito e um dever.

Miriela saiu da discussão sobre a Educação formal para falar da importância da Educação Popular, “que começou com Paulo Freire e se espalhou pela região”. Disse ainda que não é possível construir uma Educação emancipadora sem uma prática emancipadora, e destacou as iniciativas de Educação em movimentos sociais, citando o caso da Escola Florestan Fernandes, do MST. Por fim, chamou os universitários a não se limitarem à academia, a buscarem a realidade das ruas, a tornarem-se intelectuais orgânicos.

Antes de encerrar-se o debate participou ainda um integrante da Marcha Patriótica, organizadora do encontro, que disse não querer o fim do conflito, mas sua ressignificação, sua colocação em outro campo que não o militar “precisa ser desconstruída a ideia de que a insurgência colombiana surgiu por osmose, ela tem raízes históricas e sociais”, disse. Lembrou ainda que são 8500 presos políticos, 30 mil desaparecidos, e uma sociedade assim “não pode ser considerada democrática”.

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Fórum pela Paz na Colômbia – Abertura oficial traz movimentos sociais de toda América Latina

25 maio

Alexandre Haubrich, Jornalismo B

Fotos: Bruna Andrade, Jornalismo B

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Após a primeira rodada de debates que se espalharam por três auditórios no Centro de Porto Alegre, o Fórum pela Paz na Colômbia teve sua abertura oficial na tarde desta sexta-feira no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A mesa foi composta por representantes de movimentos sociais e organizações de boa parte dos países da América Latina – além de uma representante do País Basco – e o auditório esteve lotado por brasileiros, argentinos, uruguaios, venezuelanos, paraguaios e, especialmente, colombianos.

As falas giraram em torno da luta pela soberania latino-americana e da importância da questão colombiana para os avanços do continente em direção à independência definitiva. Foram saudadas as experiências progressistas do continente, em especial a República Bolivariana da Venezuela.

Após os discursos, o uruguaio Daniel Viglietti fechou a noite com um show em que recitou Benedeti ao som de Violeta Parra, agradeceu Chico Buarque e Chico César pela solidariedade internacionalista, e encerrou uma hora de um espetáculo emocionante chamado todos a desalambrar, ao que facilmente se respondeu que sim, vamos.

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Fórum pela Paz na Colômbia – Mesa “Democracia” aponta capitalismo e paramilitarismo como empecilhos para a paz

25 maio

Texto e fotos: Bruna Andrade, Jornalismo B

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O Fórum pela Paz na Colômbia, que começou nesta sexta-feira (24) e vai até domingo, tem como eixos temáticos Justiça Social, Democracia e Soberania. Dentro disso, na tarde de sexta o evento teve três mesas simultâneas, cada uma tratando de um dos temas centrais do Fórum.  A mesa sobre Democracia, que aconteceu no Auditório do AFOCEFE Sindicato, contou com a presença da deputada do País Basco Diana Urrea, do representante da Frente Guasu do Paraguai Najeed Amado, e do militante da Marcha Patriótica da Colômbia Gustavo Gallardo.

Em suas colocações os participantes da mesa destacaram que para que haja uma democracia real é preciso um rompimento com o capitalismo: “Democracia e paz são contraditórias com modelo de produção capitalista”, afirmou Najeed. Além disso, a deputada Diana Urrea ainda lembrou que em uma democracia os direitos básicos dos cidadãos, como “saúde e educação públicas e de qualidade”, precisam ser respeitados: “Não pode haver paz enquanto não garantirmos nossos direitos universais”. A deputada ainda apontou que é fundamental que a pauta feminista esteja nas lutas da esquerda não só no processo colombiano, mas em toda a América Latina: “Não podemos falar em democracia sem falar de uma democracia radicalmente feminista. Qualquer organização que se considere de esquerda deve ter o feminismo como premissa de suas políticas.”.

O militante colombiano Gustavo Gallardo ressaltou que “democracia não é sinônimo de eleições. Democracia e participação têm um conceito muito mais amplo”, e destacou o paramilitarismo como um dos grandes problemas que a Colômbia enfrenta atualmente: “A primeira coisa que devemos fazer na Colômbia é que para uma real e efetiva participação política nos destinos do nosso país deve haver um desmonte efetivo e real do paramilitarismo. E não só do paramilitarismo, como da estrutura militar apoiada e financiada pelo governo, que está acabando com a oposição política, com os movimentos sociais, sindicais.”. Gustavo ainda apresentou diversas propostas da Marcha Patriótica para a paz no país. Entre as sugestões, a organização defende a criação de um quarto poder, o Poder Popular, e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte: “precisamos de uma Constituição que acabe com esse nefasto regime neoliberal que há na Colômbia”, justifica.

A unidade entre os movimentos sociais da América Latina foi defendida de forma unânime como uma necessidade para que possa haver um aprofundamento da democracia no continente. “Nós estamos condenados à integração das lutas populares” destacou o paraguaio Najeed.

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Fórum pela Paz na Colômbia – Mesa “Justiça Social” pergunta: que paz queremos?

25 maio

Texto e fotos: Alexandre Haubrich, Jornalismo B

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Uma das mesas que abiu, nesta sexta-feira, o Fórum pela Paz na Colômbia, serviu para debater não apenas a necessidade de paz, mas o tipo de paz necessário. A mesa temática “Justiça Social”, no auditório da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação – RS, levou cerca de 100 pessoas de diversos países da América Latina a confrontarem-se com dois tipos de paz: a dos cemitérios e a da justiça.

O colombiano David Flores, porta-voz da Marcha Patriótica, foi quem abriu os trabalhos, apresentando justamente esse questionamento: qual a paz que a Colômbia pede? Esse, para ele, é o centro da disputa política que se dá hoje naquele país. David distinguiu dois tipos de paz: a paz que quer o presidente Juan Manoel Santos, “que busca manter o atual modelo de acumulação de capital, especialmente através da exploração dos recursos naturais”; ou a paz com justiça social, que “reconhece que o que existe é um conflito social, político, econômico e armado, e que são conflitos que se determinam entre si”.

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David explicou que “a proposta de Santos é, sem mudar nada, incorporar a insurgência armada ao campo eleitoral”, mas destacou: “na Colômbia temos um sistema político antidemocrático”. Segundo relatou, o controle político na Colômbia está nas mãos de grupos paramilitares, e não há possibilidade de uma oposição de esquerda ter qualquer espaço eleitoral. A violência política é uma realidade, e, como contou David, desemboca em constantes assassinatos de militantes, sindicalistas, integrantes de partidos da esquerda, ou mesmo de civis. Sim, até mesmo civis sem qualquer participação na luta política, geralmente moradores de áreas mais pobres, são mortos pelo governo, que então afirma ter derrotado insurgentes. “Em um ano, oito companheiros da Marcha Patriótica foram assassinados”, denunciou, lembrando o caso do partido de esquerda União Patriótica, cujas principais lideranças foram todas mortas por paramilitares de direita.

Por outro lado, há a paz que os movimentos sociais defendem, a “paz com justiça social”. As diferenças ficam claras desde a análise do conflito: “Santos diz que o conflito armado é a causa, nós dizemos que é a consequência do conflito social”. David diz que o conflito armado só existe por conta das grandes desigualdades presentes na sociedade colombiana e pela impossibilidade de disputa democrática. “Não estamos falando de fazer revolução, de socialismo, mas de reconhecer um conflito social histórico”.

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Para David, dois caminhos são fundamentais para a paz defendida: mobilização popular e pressão internacional. Além disso, ele vê como necessária a criação de uma Assembleia Constituinte que possa democratizar o poder político colombiano, historicamente mantido nas mãos de poucas famílias. O mesmo acontece com o poder midiático, conforme contou.

O colombiano ainda destacou o papel do exército colombiano na matança que acontece naquele país. 8% do PIB é utilizado em gastos militares, para manter 400 mil soldados – proporcionalmente o segundo maior exército do continente, atrás apenas dos Estados Unidos.

Depois de David, quem falou foi Jair Krischke, coordenador da Comissão da Verdade no Rio Grande do Sul e histórico militante dos Direitos Humanos. Jair começou fazendo uma autocrítica ao mesmo tempo em que comemorava a realização do Fórum, ao lembrar que no Brasil conhecemos pouco a realidade do restante da América Latina. E seguiu de forma contundente reforçando a análise de David Flores: “Quando se fala em paz, eu tenho medo. Porque o que alguns querem é a paz dos cemitérios, o silêncio. A paz verdadeira é filha da justiça”.

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Jair falou do número impressionante de assassinatos de dirigentes sindicais na Colômbia, e destacou que “os grandes conflitos internacionais têm fundo econômico, não político”, e que os conflitos colombianos acontecem por conta da ganância da elite daquele país, “talvez a mais qualificada elite da América Latina”.

O último a falar foi o argentino José Ernesto Schulman, representante da Liga Argentina pelos Direitos dos Homens, a mais antiga organização de Direitos Humanos das Américas, criada em 1937 em apoio aos espanhóis que lutavam contra a ditadura de Franco. José Ernesto foi no mesmo caminho de David e Jair, diferenciando dois tipos de paz. Para eles, a questão e a disputa dá-se entre a “paz romana” e a “paz de Jesus”, ou seja, a paz do opressor contra a paz do oprimido, da solidariedade, da justiça. “A paz dos vencedores, dos cemitérios, estéril e encobridora de um conflito histórico” ou “a paz pela qual se realizam os direitos humanos e a dignidade”. Destacou que não basta terminar com o conflito, é preciso terminar com o que o causou.

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O argentino leu o prefácio da Declaração Universal dos Direitos dos Homens para lembrar que os povos têm o direito a rebelar-se contra tiranias, e disse que é isso o que acontece hoje na Colômbia. Foi além: “o tema da paz na Colômbia toca a todos nós latino-americanos. Que paz terá vez na Colômbia é que cenário teremos na América Latina nas próximas décadas. O que acontecerá se os yankees conseguem transformar a Colômbia em um porta-aviões gigante, na porta de entrada do império?”. Emocionado, José Ernesto encerrou sua fala e o debate lendo um trecho da fala de outro Ernesto, também argentino, que sob a alcunha de Che deixou boquiaberta a Assembleia Geral da ONU em 1967:

Esta gran humanidad ha dicho ‘¡Basta!’ y ha echado a andar. Y su marcha, de gigantes, ya no se detendrá hasta conquistar la verdadera independencia, por la que ya han muerto más de una vez inútilmente.

Porto Alegre recebe Fórum pela Paz na Colômbia

21 maio

Da organização do Fórum:

Seguindo sua tradição de ser centro de reunião para processos de solidariedade internacional, Porto Alegre está nos preparativos finais para receber o Fórum pela Paz na Colômbia, que reunirá pessoas e entidades de diversos países da América Latina e Europa durante os dias 24, 25 e 26 de maio. O evento busca reunir a sociedade civil colombiana e internacional em um importante momento histórico, já que desde novembro do ano passado acontece em Cuba uma mesa de diálogos entre o governo colombiano e a insurgência armada representadas pelas Farc, em busca de uma solução política para o conflito.

O Fórum recebe apoio de mais de duas mil organizações colombianas e possui em seu Comitê Organizador mais de 70 entidades brasileiras. “Queremos reunir as contribuições de experiências, produções acadêmicas e culturais das pessoas lutadoras pela paz, pelos direitos humanos e pela democracia de nossa América, que ajudem o movimento popular e social colombiano a ampliar a mobilização social pela paz, porque podemos ser um ator fundamental na busca de acordos legítimos que apontem a resolução das causas sociais do conflito armado”, afirma Mauricio Avilez, um dos coordenadores do evento.

Os eixos centrais que nortearão o debate são Justiça Social, Soberania e Democracia. Serão debatidos temas como a participação de jovens, mulheres e trabalhadores nos processo de paz, além de discutidos assuntos como a questão da terra, direitos humanos e militarização. O evento deve culminar em um espaço de diálogo entre os participantes do Fórum com os representantes do governo colombiano e das Farc, que devem apresentar seus pontos de vista sobre a situação do país e as negociações de paz. Por fim, será realizada uma assembleia geral na qual será elaborada uma carta final pelos participantes.

Entre os debatedores convidados estão a defensora de direitos humanos Piedad Cordoba, ex-senadora e porta-voz do Movimento Político Marcha Patriótica; Iván Cepeda, deputado nacional pelo Polo Democrático Alternativo; as Mães da Praça de Maio; os deputados do parlamento europeu Willy Meyer e Diana Urrea; Najeed Amado, deputado do Parlamento Sul-Americano pelo Paraguai; Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz, entre outros militantes dos direitos humanos e lideranças sociais, políticas e acadêmicas.

Além disso, o Fórum recebe atividades culturais como um grupo de música folclórica colombiana de gaitas e tambores; grupo de musica folclórica da Argentina; o Bonde da Cultura de Rio de Janeiro; além do show Cantoria Brasileira, de Pedro Munhoz, Cícero de Crato e Zé Pedro Rocha e da apresentação do cantor e compositor uruguaio Daniel Viglietti, considerado um dos maiores expoentes da música de protesto latino-americana.

SERVIÇO 
Fórum pela Paz na Colômbia
Data: 24 a 26 de maio
Local: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS)
Inscrições: R$ 20,00
Mais informações: http://forumpelapaznacolombia.blogspot.com.br