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Movimentos sociais fazem protesto em desfile cívico de Porto Alegre

7 set

Texto e fotos: Bruna Andrade / Jornalismo B

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Na manhã deste 7 de setembro, dia da “Independência do Brasil”, enquanto famílias inteiras desciam a Borges de Medeiros em direção à Av. Loureiro da Silva, onde ocorria o desfile cívico de Porto Alegre, diversos movimentos sociais se reuniam no Largo Glênio Peres. Entre outras pautas, os movimentos reivindicavam a democratização da comunicação, a reforma agrária e a punição dos torturadores da Ditadura Militar.

No local havia a concentração de três manifestações e enquanto ocorria a chegada dos manifestantes, houve um mal estar entre os que chegavam para participar da ação Independência ou Globo e do 19º Grito dos Excluídos com os que chegavam para o evento denominado Operação Sete de Setembro e que carregavam cartazes padronizados dizendo “Fim da corrupção. + Saúde.”. Os participantes das outras duas ficaram incomodados e alegaram que aquela seria uma “tentativa de cooptar o movimento popular” porque, segundo eles, a pauta da corrupção “é uma pauta elitista”.

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Por volta das 10 horas, os movimentos sociais começaram sua passeata rumo à Loureiro da Silva. Apesar do forte contingente da polícia que acompanhou toda a caminhada, os manifestantes não tiveram problemas para chegar ao local. Eles permaneceram no Largo dos Açorianos gritando palavras de ordem que pediam, principalmente, a democratização dos meios de comunicação. João Herminio Marques, membro do movimento A Marighella, explicou que o protesto Independência ou Globo foi organizado porque o movimento entende que “a Globo seja a morte da comunicação, da política e da consciência popular”.

Além disso, também foram apresentadas diversas outras demandas como a reforma agrária, 10% do PIB pra educação e mais investimentos na saúde pública. O médico formado em Cuba e integrante do MST, Marcos Tiaraju, que estava participando do ato, falou sobre a vinda dos médicos estrangeiros: “Estamos encampando, junto com os demais movimentos sociais a defesa do programa Mais Médicos, a vinda dos médicos estrangeiros, principalmente dos cubanos, que estão sendo rechaçados pelos Conselhos de Medicina do Brasil”.

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Os crimes cometidos por militares durante a Ditadura também estavam na pauta do movimento. Para Darla Ribeiro, integrante do Levante Popular da Juventude, “a questão da luta pela memória, verdade e justiça não está desligada das demais reformas, e também é elemento central”. Ela ainda falou sobre a importância da luta: “A gente continua reafirmando que é indispensável que a gente siga lutando e fazendo justiça, pra que esses torturadores genocidas que contribuíram para a Ditadura Militar não fiquem impunes. Vamos sempre levantar essa bandeira pra que seja retomada a memória do povo brasileiro e pra que nunca mais volte a acontecer”.

Após o final do desfile, os manifestantes puderam entrar na avenida onde antes ele estava acontecendo, no entanto, durante cerca de dez minutos, foram impedidos pela Brigada Militar de continuar com a passeata enquanto as autoridades não deixassem o local. Após serem liberados para seguir, os militantes avançavam de forma tranquila e gritando palavras de ordem quando passaram por um grupo que estava nas arquibancadas do desfile e que, vestidos com camisetas com a bandeira do Brasil, seguravam faixas quem pediam “intervenção militar já!”. Nesse momento, houve tensão e os dois grupos discutiram fortemente, a Brigada Militar precisou se colocar entre eles. Os manifestantes que seguiam pela Loureiro da Silva começaram a cantar músicas que lembravam os crimes da Ditadura e, após alguns minutos, a passeata dos movimentos sociais prosseguiu. O protesto foi encerrado por volta do meio dia na esquina com a rua José do Patrocínio. 

Élton Brum e Amarildo são lembrados em ato em Porto Alegre

21 ago

Texto e fotos: Alexandre Haubrich / Jornalismo B

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Há exatos quatro anos, em 21 de agosto de 2009, o Sem-Terra Élton Brum era assassinado pela Brigada Militar em São Gabriel. O governo Yeda Crusius e a BM comandada pelo coronel Paulo Roberto Mendes faziam uma vítima alvejada pelas costas. No fim da tarde de 21 de agosto de 2013, o Cambada Levanta e outros movimentos sociais levaram à Esquina Democrática, em Porto Alegre, a obrigação da memória.

A noite começou com uma intervenção teatral em torno do assassinato de Élton e da indiferença da sociedade em relação a seus lutadores caídos. Dezenas de pessoas pararam por alguns minutos seus caminhos para ver a apresentação. A arte conseguia comunicar o que a mídia latifundista tem silenciado.

Depois da peça, já com o Centro às escuras após um apagão, alguns discursos juntaram-se a faixas, cartazes e panfletos e lembraram que a violência do Estado, estimulada pelas elites econômicas, faz vítimas no campo e nas cidades. Élton Brum e Amarildo de Souza são um só símbolo.

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Famílias sem-terra assentadas em São Gabriel denunciam descaso do governo federal

10 abr

Carta de denúncia das famílias do assentamento Madre Terra, em São Gabriel/RS, e do pedido de solidariedade que fazem aos movimentos sociais, sindicatos, entidades de base e aos apoiadores da luta pela terra:  


Assentamento Madre Terra, São Gabriel, RS.

 
Quatro anos sem água, luz, estrada, educação, saúde, habitação…
 
Março/abril de 2013.
 
Nós, as famílias do assentamento Madre Terra, regional de São Gabriel do MST/RS, viemos por meio deste documento nos manifestar sobre a situação de extrema precariedade e abandono que estamos submetidas há quase quatro anos. Tendo presente que não somos um caso isolado, mas sim produto de uma política nacional de favorecimento ao agronegócio em detrimento aos direitos humanos, à biodiversidade e a todos os modos de vida e culturas tradicionais.

Depois de resistirmos a longos períodos acampadas e termos feito parte de históricas jornadas de luta pela terra no RS, como as ocupações da Southall em São Gabriel, e da fazenda Guerra em Coqueiros do Sul. Depois de termos lutado contra toda a brutalidade do assassino governo Yeda associado ao agronegócio, e de estarmos juntos e na linha de frente em inúmeras outras jornadas e lutas de trabalhadores no campo e na cidade durante quase dez anos, nós, as oitenta e sete famílias assentadas em julho de 2009 vivemos, apesar de “assentadas”, enfrentando uma série de dificuldades que partem do descaso do governo federal e de seus apoiadores em realizar uma reforma agrária que realmente ofereça as condições para nossas famílias sobreviverem do próprio trabalho e com dignidade no campo.
 
Fomos jogadas num projeto de assentamento a 80 km da cidade, sem nenhuma estrutura, sem água, sem luz, sem nenhum auxílio médico, sem estradas, e aqui fomos esquecidas. Dependemos por longo período da humilhante e degradante cesta básica do INCRA que, por vezes, conteve até leite em pó podre, para sustentarmos nossos filhos.
 
Auxilio médico-hospitalar dentro do assentamento nunca soubemos o que é isso. Não existe nenhum tipo de acompanhamento nesse sentido e transporte em casos de urgência só a solidariedade interna pode resolver. Porém, num temporal de dezembro passado, um companheiro atingido na cabeça por uma tábua esperou sangrando por 7hs seguidas para que, levado jorrando sangue na carroceria de uma camionete, pudesse chegar próximo a uma ambulância do SAMU. Este companheiro só saiu do coma em março e, mesmo perdendo parte dos movimentos, teve alta voltando ao assentamento onde através de um mutirão foi construído, enfim, seu primeiro galpão de madeira. Foi por esta madeira, por uma destas tábuas que foi atingido no temporal de dezembro, pois estas tábuas demoraram mais de 3 anos para chegarem e, escassas como são, talvez não darão para o assoalho. Sofrerá assim esse companheiro e sua família como todas as outras mais um rigoroso inverno pampiano sem condições mínimas de moradia.
 
Sem água encanada temos que torcer para não parar de chover. Na seca do ano passado, tivemos que cavar buracos nos campos para podermos matar a sede de nossas famílias, ou então procurar a longas distâncias sangas e barragens, compartilhando da mesma água com todos os tipos de animais. Os funcionários do INCRA, que não aparecem de forma frequente porque são pouquíssimos para atender toda a região, simplesmente tiveram que assistir a isso sem recursos para mudar as coisas.
 
Em relação à educação, depois de muita promessa e enrolação do Governo Estadual e Municipal, sem escola e sem estradas internas, nossas crianças da primeira à oitava série chegam a ter que acordar às 3:30h da manhã para pegar um ônibus caindo aos pedaços às 6:00h, na área central do assentamento, e viajar mais duas horas num percurso de quase 30 km para chegar à escola mais próxima. A dureza é tanta que as aulas são em turno integral e a cada dois dias, quando não chove. Nesse contexto de precariedade total, criam-se todas as condições para que nenhum jovem permaneça no campo.
 
Sem as estradas internas, também fica inviabilizada a produção, pois é impossível transportar cargas, incluindo o leite, que é objetivo da maioria dos assentados produzirem aqui, mas que só fica em sonho porque para piorar, a energia elétrica fundamental para essa linha de produção existe somente em projetos que nunca saem do papel ou em discursos de um Luz para Todos, que no campo não chega a “todos”. Ainda que tivéssemos as estradas e a energia indispensáveis, com quatro anos de assentamento ainda não acessamos nem um terço dos minguados créditos que deveríamos receber para minimamente investir na produção.
 
Diante disso tudo, temos a plena certeza que para o agronegócio, para o latifúndio e para todos os peixes grandes da agricultura isso não funciona assim, pois somente em 2012 o Governo Federal destinou aproximadamente 100 bilhões de reais para empresários e latifundiários comprarem máquinas, sementes transgênicas e venenos de empresas multinacionais e, assim, seguir poluindo e concentrando a terra. Sabemos que a situação desumana em que vivemos também é fruto de uma estratégia que há tempos abandonou o enfrentamento, a pressão, e passou a privilegiar as lutas de gabinete, deixando de lado a organização de base e apostando todas as fichas nas estruturas de poder. Uma estratégia que conseguiu entrar em território inimigo, mas que pela dinâmica interna desse tipo de acionar, logo passou a confundir-se com o inimigo ajudando-o a gerir a miséria em boa parte das áreas de reforma agrária.
 
É por tudo isso que resolvemos transformar nossa indignação em luta e organização. E, para isso, pedir a solidariedade aos que lutam, militância, outros movimentos sociais, sindicatos, entidades de base, e aos apoiadores da luta pela Terra contra o agronegócio, para arrancarmos nossas conquistas e mostrar para os oprimidos e explorados que nossos direitos só a LUTA faz valer. Pois, se antigamente o Estado usou cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, métodos de tortura, balas de borracha e de estanho para nos desmobilizar, hoje ele usa métodos mais sutis, mas não menos eficazes como o abandono, a burocracia, o engessamento, a cooptação de dirigentes e o isolamento. E é justamente para sair dessa situação que procuramos aos que lutam, pois, sabemos que é só entre esses que encontraremos companheiros.
 
Coordenação dos grupos de famílias do assentamento MADRE TERRA.
Grupo de Mulheres do assentamento MADRE TERRA.
Coletivo de Juventude do assentamento MADRE TERRA.

Sem-terra são feridos a bala em protesto em Eldorado dos Carajás

21 jun

Do Blog do Sakamoto:

Ao menos 12 manifestantes foram alvejados a balas, na manhã desta quinta (21), por seguranças da fazenda Cedro, pertencente à Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, empresa que tem como acionista o banqueiro Daniel Dantas, em Eldorado dos Carajás, Sudeste do Pará.

José Batista Afonso, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra em Marabá, afirma que os feridos estavam se reunindo na porteira da fazenda para um ato contra a grilagem de terras, o trabalho escravo e o uso excessivo de agrotóxicos, como parte das ações paralelas à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Nesse momento, os seguranças atiraram contra eles. Segundo Batista, 12 pessoas deram entrada no Hospital de Eldorado dos Carajás, entre elas uma criança. Às 17h, oito já havia sido liberados e quatro permaneciam internados.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra possui um acampamento na beira da rodovia PA-150, onde 310 famílias ocupam, desde março de 2010, cerca de cinco hectares dos 7 mil da fazenda de gado, que pertencia a Benedito Mutran Filho e foi vendida à Agropecuária Santa Bárbara Xinguara.

De acordo com Charles Trocate, da coordenação nacional do MST, que se encontra no local, está prevista uma audiência com a ouvidoria agrária nacional nesta sexta, em Marabá. A polícia militar já está no local para apurar o ocorrido. Segundo a liderança, um grupo de cerca de mil manifestantes estava fazendo um protesto na sede da Alpa (Aços Laminados do Pará), que tem a Vale como uma das acionistas. De lá, seguiram para a frente da fazenda Cedro. Manifestantes bloqueavam parcialmente a rodovia em frente à entrada da Cedro na tarde desta quinta.

O deputado federal Claudio Puty (PT-PA) é um dos parlamentares que está indo ao Pará acompanhar os desdobramentos do caso e participar da reunião com a ouvidoria agrária. Ele afirmou que “esse é mais um capítulo de violência ligada à propriedade do grupo pertencente à Daniel Dantas. Boa parte dessas terras são, originalmente, de aforamento para extração de castanha que, depois, foram apropriadas e revendidas para o grupo Santa Bárbara de maneira absolutamente irregular”. De acordo com Puty, que também é presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Trabalho Escravo, as terras são objeto de ação da Procuradoria Geral do Estado visando ao cancelamento do direito ao uso para fins diferentes do original.

Em nota divulgada à imprensa, o MST informa que chegou a ser proposto um acordo judicial perante a Vara Agrária de Marabá, através do qual os movimentos sociais desocupariam as fazendas Espírito Santo, Castanhais e Porto Rico. Com isso, outras três (Cedro, Itacaiunas e Fortaleza) seriam desapropriadas para o assentamento das famílias. “O Grupo Santa Bárbara, que administra as fazendas do banqueiro [Daniel Dantas], concordou com a proposta. Os trabalhadores desocuparam as três fazendas, mas o Grupo Santa Bárbara tem se negado a assinar o acordo.” O MST afirma que o Incra (governo federal) e o Iterpa (Instituto de Terras do Estado do Pará), por falta de coragem política, não enfrentam o problema e, por isso, terras públicas cobertas de florestas de castanheiras tem se transformado em pastagem para criação extensiva do gado.

Procurada por esta reportagem, a Santa Bárbara Xinguara informou, através de sua assessoria de comunicação, que “a empresa faz o que a lei lhe permite para coibir essa violência: cobra as autoridades”. Em nota, a empresa afirma que “os invasores chegaram atirando e destruindo a propriedade, aterrorizando os funcionários”, que teriam fugido desesperados. “Eram 300 invasores enfurecidos e apenas seis seguranças para proteger as vidas dos funcionários e de si próprios e à propriedade.” A nota diz que a empresa está cobrando ações das autoridades quanto às ocupações de suas fazendas através de ofícios e boletins de ocorrência nos últimos três anos e confirma que já havia um acampamento na Cedro. A empresa nega que o grupo protestasse contra o uso de agrotóxicos, como divulgou o MST.

“O balanço da violência, crimes e atentados às pessoas e ao direito à propriedade é dramático. As invasões e os crimes delas decorrentes alcançam prejuízos econômicos inimagináveis para o empreendimento, com consequências desastrosas para toda sociedade, inclusive maculando a imagem do Estado do Pará. A situação provoca os mais diferentes sentimentos nas pessoas de bem: indignação, repúdio, raiva, consternação”, afirma a nota.

A entrada da fazenda se localiza a cerca de 40 quilômetros da curva do “S” da rodovia PA-150, local onde 19 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados em 17 de abril de 1996. O Massacre de Eldorado dos Carajás deixou mais de 60 feridos após uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia. Duas pessoas foram condenadas por conta da operação: o coronel Mario Colares Pantoja (a 228 anos de prisão) e o major José Maria Pereira Oliveira (a 154 anos), que estavam à frente dos policiais. Apenas em 2012, a ordem de prisão para os dois foi expedida após esgotarem-se todos os recursos.

Impactos ambientais – Daniel Avelino, procurador da República no Pará, lembra que os controladores da Santa Bárbara Xinguara são réus em ações civis públicas movidas pelo Ministério Público Federal, em 2009, por conta da situação ambiental nas fazendas de gado do grupo. Os problemas na Cedro incluíam “fazer funcionar empreendimento agropecuário sem licença outorgada pelo órgão ambiental competente” e “impedir a regeneração natural de vegetação nativa em área especialmente protegida (Bioma Amazônia)”. De acordo com a ação do MPF, 92,22% da Cedro não possuía cobertura vegetal – sendo que, apenas de reserva legal, o responsável pela área tem que garantir 80% na Amazônia.

A Justiça Federal, em caráter liminar, já deferiu alguns condicionantes à continuidade da atividade pecuária pela empresa por conta dessas ações. Entre elas, não incidir no trabalho escravo ou no desmatamento ilegal. De acordo com o procurador da República Tiago Modesto há problemas constatados com a empresa em ambas as situações.

Independentemente da decisão da Justiça, os frigoríficos instalados no Estado não podem comprar gado oriundo de áreas com essas ocorrências. Com base em um levantamento feito em parceria com o Incra, o Ministério Público Federal do Pará iniciou duas dezenas de processos judiciais contra frigoríficos e fazendas (entre elas a Cedro), pedindo o pagamento de R$ 2,1 bilhões em indenizações pelos danos ambientais no final de maio de 2009. Dezenas de empresas que compraram subprodutos desses frigoríficos receberam notificações em que foram informadas que haviam adquirido insumos obtidos através do desmatamento ilegal da Amazônia e do trabalho escravo. A partir da notificação, deveriam parar de comprar desses fazendeiros e frigoríficos ou passariam à condição de co-responsáveis pelos danos ambientais.

Redes de supermercados acataram as recomendações, pressionando os frigoríficos. As grandes indústrias processadoras de carne e o governo do Pará começaram a assinar termos de ajustamento de conduta com o MPF. Com o tempo, municípios paraenses e frigoríficos menores foram envolvidos no processo. Os acordos do Pará foram os primeiros e contribuíram com a diminuição no índice de desmatamento no Estado. Eles acabaram sendo repetidos em outros Estados a ponto de ser necessária a criação de um acordo regional. Há dois meses, o Ministério Público Federal propôs a representantes de frigoríficos e exportadores de carne bovina um acordo unificado para regularização ambiental e social da cadeia produtiva em toda a região amazônica, uniformizando as obrigações e incentivos dados aos produtores rurais.

Por fim, a Cedro estava ocupando irregularmente área do assentamento Cedrinho, desapropriado a partir de antiga área pertencente à própria fazenda, como explica Tiago Modesto, que atua em Marabá. O MPF moveu outra ação civil pública e a Justiça determinou a reintegração de posse dessa parte sobreposta. Ao mesmo tempo, o Incra se comprometeu a desapropriar uma área maior, hoje, pertencente à Santa Bárbara Xinguara.

Outra fazendas, mesmos envolvidos – Trabalhadores rurais ligados ao MST chegaram a ocupar a fazenda Espírito Santo, também localizada no Sul do Pará, controlada pela Agropecuária Santa Bárbara. Integrada por terras públicas, elas estavam cedidas pelo Estado para Benedito Mutran Filho para colonização e extrativismo e não poderiam ter sido vendidas a Dantas sem autorização do governo.A fazenda tem uma história manchada de sangue. Em setembro de 1989, aos 17 anos, o trabalhador rural José Pereira Ferreira foi atingido por uma bala no rosto por funcionários da fazenda quando tentava escapar do trabalho escravo. O caso, que não recebeu uma resposta das autoridades brasileiras, foi levado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Para não ser condenado por omissão, o governo brasileiro teve que fazer um acordo em que se comprometia a adotar uma série de medidas para combater o trabalho escravo e a indenizar José Pereira pela omissão do Estado. Em novembro de 2003, o Congresso Nacional aprovou um pagamento de R$ 52 mil.

A petição número 11.289 da OEA, relativa à solução amistosa do “Caso Zé Pereira”, afirma que “o Estado brasileiro assume o compromisso de continuar com os esforços para o cumprimento dos mandados judiciais de prisão contra os acusados pelos crimes cometidos contra José Pereira”. O caso ainda está aberto, aguardando julgamento de acusados, sendo que o gerente da fazenda, Artur Benedito Cortes Machado, teve extinta a punibilidade retroativa em 06 de outubro de 1998 devido à prescrição do crime. Tanto no processo da OEA quanto no que correu na Justiça brasileira, Benedito Mutran Filho não aparece entre os réus. O proprietário da fazenda foi arrolado como testemunha pela acusação e afirmou que raramente ia à fazenda Espírito Santo e que demitiu os funcionários envolvidos assim que soube do acontecido.

Mano Brown: “Justiça começa com cota de terra”

23 maio

Do MST:

O MC Mano Brown, do Racionais MCs, visitou um edifício ocupado por trabalhadores  sem-teto, no número 360 da rua Mauá, no centro de São Paulo, para a gravação do clipe Marighella, na quinta-feira (17/5).

Em discurso à comunidade, Brown disse o problema do país é a distribuição de terra e a garantia de moradia.

“A luta do Brasil é a distribuição de terra. Só que muitos deles que falam da distribuição de terra são latifundiários também. Tem muita terra improdutiva lá. Por que eles são herdeiros dos caras que tinham muita terra. E eles não dividem terra com ninguém”, falou Brown.

O MC do Racionais atacou o candidato pelo PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, o atual prefeito Gilberto Kassab e o governador do estado Gerando Alckmin. “Existe direita. Kassab é direita, Alckmin é direita”

“O problema do Brasil é moradia. Se a gente tiver espaço, um quntal razoável, pros nossos filhos poderem correr, crescer com saúde… (…). Só queremos espaço pra viver – nem melhor nem pior, mas igual”, defendeu.

Em entrevista à TV Folha, ele resgatou que “Marighella falava sobre isso: Reforma Agrária, dividir as terras e justiça social”. “Querem fazer justiça com cota. Justiça começa com cota de terra”, defendeu o MC.

Justiça do Pará determina prisão de condenados por massacre de Carajás

8 maio

Do Brasil de Fato:

Nesta segunda-feira (6), o Tribunal de Justiça (TJ) do Pará expediu mandado de prisão contra os policiais militares condenados pelo envolvimento no Massacre de Eldorado dos Carajás. A ação policial que resultou na morte de 21 trabalhadores rurais ocorreu há 16 anos e contou com a participação de mais de 150 policiais militares. Até hoje, somente o coronel Mario Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira foram condenados.

Ambos recorriam da sentença em liberdade. O mandato de prisão foi expedido pelo juiz Edmar Pereira, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, após o esgotamento dos recursos. Em 2002, o coronel Pantoja foi condenado a 228 anos e o major Oliveira a 158 anos e 4 meses em regime fechado, mas a lei penal brasileira permite o cumprimento máximo de 30 anos de reclusão.

Durante o mês de abril, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou uma série de manifestações durante a Jornada Nacional de Luta por Reforma Agrária e cobrou a punição dos responsáveis pelo massacre, que marcou a história de violência no campo brasileiro.

O massacre ocorreu em 1996, na chamada curva do “S”, em Eldorado dos Carajás em uma ação da Polícia Militar (PM) para conter os manifestantes que, após dias de marcha, protestavam na rodovia PA-150. Além dos 21 mortos, centenas de sem terra ficaram feridos.

Manifestação do MST no 1° de maio cobra terra, moradia, trabalho e justiça no Maranhão

2 maio

Do MST:

Cerca de mil pessoas, organizadas pelo MST, realizaram nesta terça-feira (01) a Jornada de Lutas por Terra, Trabalho, Moradia e Justiça no Maranhão. O município de Bom Jesus das Selvas, onde aconteceu a atividade, é uma região marcada por intensos conflitos agrários e de diversas violações de direitos humanos.

A Jornada realizada no dia histórico para a classe trabalhadora promoveu várias atos públicos, palestras, passeatas e o trancamento da rodovia BR 222 por duas horas.

Além de marcar o 1° de maio, a Jornada também objetivou construir uma agenda conjunta entre organizações da sociedades civil na construção da luta pela terra, moradia, trabalho e justiça social, formulando assim um levantamento de demandas para a consolidação das reivindicações sociais na região.

O município de Bom Jesus das Selvas, centro-oeste do Maranhão, vive ameaçado por grandes projetos econômicos. Entre eles estão as imensas plantações de eucaliptos para produção de carvão para as siderúrgicas e a duplicação da estrada de Ferro Carajás, que tem a mineradora Vale como administradora.

Estes grandes projetos fazem parte do chamado Corredor Grande Carajás, que liga Parauapebas, no estado do Pará, a São Luis do Maranhão, transportando recursos minerais extraídos na região.