Fórum pela Paz na Colômbia – mesa sobre Direitos Humanos pede paz com justiça

26 maio

Texto e fotos: Alexandre Haubrich

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No início da tarde deste sábado dezenas de pessoas se reuniram no auditório da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, no Centro de Porto Alegre, para debater a importância da pauta dos Direitos Humanos quando está em jogo a ideia de paz. Dois brasileiros, dois colombianos e um argentino dividiram a mesa, mas chegaram a um consenso claro: não existe paz sem respeito à diversidade, à pluralidade, à igualdade. Ou seja: para alcançar a paz verdadeira, apenas com Direitos Humanos garantidos.

Depois de falas aprofundadas e que todo o tempo dialogaram entre si, o representante do Comitê Carlos de Ré de Memória, Verdade e Justiça, Raul Ellwangner, encerrou o debate apontando relações entre os problemas colombianos e as lutas pela recuperação da memória sobre as Ditaduras Militares que assombraram a América Latina na segunda metade do século passado. Raul terminou sua fala chamando os presentes a cantar com ele uma música de um argentino que fora perseguido político, ao que se respondeu com canto, palmas e promessas de seguir com a luta e com a construção da identidade latino-americana.

Pouco antes de Raul falar, o argentino José Ernesto Schulman, do Instituto Espacio para la Memória, havia feito uma pequena retrospectiva da história da guerrilha colombiana, tudo para demonstrar que há um fundo social no conflito e que, nesse sentido, as tentativas de igualar guerrilheiros e Estado na violência praticada são absurdas. Traçou, também, um paralelo com a Ditadura Militar argentina e com os governos neoliberais que a sucederam: “As tentativas de igualar vítimas e repressores só tiveram fim na Argentina com o fim da sucessão de governos neoliberais”, disse. E destacou a importância do futuro da Colômbia para a região: “A proposta dos Estados Unidos já não é a ALCA, a proposta dos Estados Unidos para a América Latina agora é o caos. Na Colômbia se joga a sorte da América Latina”.

O “diálogo entre civilizações” seguiu com um professor colombiano que dá aulas na PUC de São Paulo, Pietro Alarcón, que apresentou uma série de dados a respeito da violência do Estado colombiano contra a própria população. Segundo ele, dados oficiais da “fiscalía”, o Ministério Público colombiano, apontam 4634 processos contra integrantes de grupos armados. Destes, 4131 são contra paramilitares, enquanto os outros poucos se dividem entre forças regulares do exército colombiano e insurgentes. Além disso, relatou 25 mil homicídios por razões políticas nos últimos anos, 3 mil casos de desaparecimentos forçados, e mil chacinas nos últimos dez anos. “Não queremos, não podemos dizer que não há excessos entre os insurgentes, mas se colocarmos as estatísticas lado a lado, veremos que por parte do Estado não há excessos, mas política de extermínio”, afirmou. Alarcón defendeu ainda a formulação de um pré-acordo entre as partes que estão agora em negociação em Havana para que “o diálogo possa seguir sem estarmos reféns dos setores armados”, que poderiam criar novos conflitos para atrapalhar as negociações.

A vereadora pelo PSOL de Porto Alegre, Fernanda Melchiona, foi a seguinte a falar, fazendo um panorama da situação dos Direitos Humanos no Brasil atual, citando o massacre do Carandiru e o assassinato do militante sem-terra Elton Brum como exemplos dos problemas que o país segue enfrentando. Para ela, casos como esses são reflexos de uma situação geral de criminalização da pobreza. Aproveitando a presença de muitos estrangeiros, Fernanda fez um relato sobre as milícias do Rio de Janeiro, lembrando o envolvimento de Policiais Militares, bombeiros e políticos. A vereadora ainda destacou as lutas das mulheres e LGBT, destacando que o Brasil é líder em assassinatos homofóbicos, e fez um apelo: “Temos que lutar contra as discriminações, as opressões, as violências, mas nunca perder de perspectiva uma visão mais global, de que uma sociedade só pode ser igualitária mudando os pressupostos”.

Participou também do debate Gustavo Gallardo, representante da Marcha Patriótica, que fez uma retrospectiva do trabalho da Marcha, iniciado há três anos com a união de mais de 1500 organizações em defesa de uma alternativa social e política para a Colômbia. Ele lembrou que o ex presidente Álvaro Uribe classificou a Marcha Patriótica como integrantes da insurgência, o que colocou em risco os membros da organização. Na verdade, segundo Gustavo, há semelhanças nas propostas, “mas eles têm a resistência armada, nós temos a resistência civil”. Conforme o ativista, nesses três anos a Marcha teve quatro integrantes desaparecidos, 11 assassinados e mais de 60 presos. Uma verdadeira carnificina, números que dialogam com as diversas denúncias feitas durante o Fórum, de extermínio sistemático de militantes de oposição.

O militante social, líder comunitário da favela da Rocinha, Paulo César Martins, o Amendoim, pediu a palavra ao fim do debate para fazer um depoimento sobre a necessidade de lutar contra a criminalização da pobreza, e terminou recitando um poema de sua autoria, emocionado e emocionando.

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